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Chernobyl: afinal, o que causou o pior acidente nuclear da História?

Há pouco mais de 33 anos, a Central Nuclear V. I. Lenin, mais conhecida como Usina Nuclear de Chernobyl, sofreu o maior acidente radioativo da história da humanidade até hoje. A história é relativamente bem conhecida e vem sendo recontada na minissérie “Chernobyl”, produzida pela HBO: na madrugada de 25 para 26 de abril de 1986, o reator nuclear número 4 da usina explodiu e espalhou material radioativo, levando 134 pessoas para o hospital, das quais 28 morreram em questão de meses e outras 14 faleceram de câncer nos anos seguintes.

Durante um teste de funcionamento de emergência usando baixa energia, o reator número 4 da Usina de Chernobyl explodiu

Como na maioria das situações em que um erro grave é cometido por instituições governamentais, as explicações viraram um jogo de batata quente: cada um dos possíveis responsáveis — dos que sobreviveram, claro — jogava a culpa de um para o outro e no fim das contas ninguém ficou sabendo exatamente o que aconteceu.

Independentemente de quem foram os verdadeiros culpados pelo acidente, vamos tentar explicar do ponto de vista técnico e científico, de maneira simples e direta para uma compreensão mais fácil, o que aconteceu no reator da Usina de Chernobyl que causou a explosão.

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A destruição no reator 4 da Usina de Chernobyl após o fim do incêndio (Foto: Volodymir Repik)

Durante um teste de funcionamento de emergência usando baixa energia, o reator número 4 da Usina de Chernobyl explodiu, destruindo o edifício onde se encontrava, causando um incêndio que durou dias e expelindo material radioativo pelo ar. Isso aconteceu porque o reator, do tipo RBMK (Reaktor Bolshoy Moshchnosty Kanalnyy em russo, Reator Canalizado de Alta Potência em português), sofreu um aumento repentino de energia durante esse procedimento e não aguentou a sobrecarga.

Para que o calor extremo dessa reação em cadeia não derreta o núcleo do reator, as usinas usam algum método de resfriamento

Funciona mais ou menos assim: a Usina de Chernobyl gera eletricidade por meio de fissão nuclear. Para isso, são usados como combustível elementos como o urânio ou o plutônio. Quando um átomo dessas substâncias tem seu núcleo explodido, ele expele partículas, que como minúsculas balas de canhão destroem os outros átomos em volta, que expelem mais partículas e isso gera uma reação em cadeia que, diferentemente de uma bomba atômica, é realizada em um ambiente controlado.

Quando o núcleo de um átomo desse tipo é fendido (daí o nome fissão nuclear), uma quantidade imensa de energia é liberada. Essa energia é usada para aquecer água, que no estado de vapor em alta pressão gira as turbinas da usina, que por sua vez acabam produzindo eletricidade. Além de emitir muita energia, a fissão de um átomo libera uma quantidade enorme de partículas radioativas e ondas eletromagnéticas que são extremamente danosas para os seres vivos.

O prédio do reator 4 destruído (Foto: Getty Images)

Bom, sabendo como a fissão nuclear funciona para a geração de eletricidade, devemos acrescentar uma informação importante: nesse processo, cerca de 6% da energia gerada é proveniente do que é chamado de desintegração radioativa. Isso significa que a usina aproveita para gerar mais um pouco de eletricidade usando o calor que continua sendo emitido pela reação em cadeia mesmo depois que ela para.

Os geradores movidos a diesel que serviam como reserva para manter as bombas funcionando demoravam mais de um minutos para fazê-las funcionar adequadamente

Para que o calor extremo dessa reação em cadeia não derreta o núcleo do reator, as usinas usam algum método de resfriamento — e no caso de Chernobyl, a própria água. E para que essa água seja conduzida pelo reator para realizar o resfriamento, é necessário usar bombas elétricas.

O grande dilema da usina — e sua maior falha de segurança — era que caso algum defeito cortasse a alimentação elétrica das bombas, o resfriamento do reator seria comprometido e o combustível de urânio poderia derreter, destruindo tudo ao redor e emitindo altos níveis de radiação. Os geradores movidos a diesel que serviam como reserva para manter as bombas funcionando demoravam mais de um minutos para fazê-las funcionar adequadamente, o que era tempo demais.

A cidade abandonada de Pripyat no ano 2000 (Foto: Getty Images)

A ideia criada pelos engenheiros da usina era cobrir essa lacuna de pouco mais de um minuto até os geradores a diesel estarem funcionando completamente usando a energia elétrica gerada pela rotação dos geradores enquanto eles iam parando de girar após um possível desligamento da usina. A inércia dos geradores ainda seria capaz de produzir o que a bomba principal precisava até passar a ser movida pela eletricidade do gerador reserva.

O problema é que isso nunca deu muito certo. Três testes foram feitos nos anos anteriores e nenhum deles apresentou os resultados esperados. O teste do dia 26 de abril de 1986, data do acidente, estava agendado para acontecer durante um desligamento de manutenção programado do reator 4 da Usina de Chernobyl.

Alguns segundos depois, um pico de energia ainda mais alto foi registrado, o que causou um enorme aumento da temperatura do núcleo do reator

Ninguém imaginou, porém, a catástrofe que estava para acontecer. Por isso mesmo, o teste foi tratado como uma atividade corriqueira, e não teve sequer aprovação dos responsáveis pela criação do reator, apenas do diretor geral da usina e, mesmo assim, nada passou pelos procedimentos exigidos pelas regras estabelecidas.

Uma série de procedimentos errados fez com que, no momento do teste, o reator apresentasse uma sobrecarga incomum e o botão do sistema de proteção de emergência do reator foi ativado — não se sabe exatamente quando, nem por quem. Alguns segundos depois, um pico de energia ainda mais alto foi registrado, o que causou um enorme aumento da temperatura do núcleo do reator e, por consequência, da pressão do vapor.

Novo revestimento do prédio do reator 4 para a proteção contra a radiação que ainda é emitida de lá (Foto: Gleb Garanich)

A explosão foi causada pelo inesperado e repentino aumento de pressão da água em forma gasosa, que lançou tudo para os ares: prédio, estrutura, reator, tudo, como no estouro de uma caldeira. Ao entrar em contato com o oxigênio, o grafite que revestia o combustível de urânio entrou em combustão. Parte dele foi lançada longe, e os bombeiros que tiveram contato com o material morreram em alguns dias por causa da radioatividade, como também acontece na série “Chernobyl”.

O que aconteceu daí para a frente é bem conhecido: centenas de pessoas foram afetadas pela radiação que foi emitida na hora da explosão e continuou sendo propagada pelo vento e pela fumaça do incêndio. A cidade mais próxima, Pripyat, com quase 50 mil habitantes, foi completamente evacuada nos dias posteriores ao acidente e até hoje ninguém mais mora lá. Estima-se que de 4 mil a 93 mil pessoas tenham sido afetadas de alguma forma pelo desastre.

Viktor Bryukhanov, gerente da Usina de Chernobyl, Nikolai Fomin, engenheiro-chefe e Anatoly Dyatlov, engenheiro-chefe adjunto, foram condenados a 10 anos de prisão em 1987 como responsáveis pelo pior acidente nuclear que o planeta já viu.

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