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Exclusivo: como tive um chip implantado na mão e me tornei um ciborgue

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Exclusivo: como tive um chip implantado na mão e me tornei um ciborgue

Meu nome é Rafael Farinaccio, sou historiador por formação e jornalista por profissão. Desde pequeno, sempre consumi muita ficção científica, seja por meio de desenhos animados, quadrinhos, livros ou filmes. Me formei em cursos técnicos de eletroeletrônica e processamento de dados, mas apesar de tudo isso, nunca pensei que um dia eu me tornaria um ciborgue.

Pois foi justamente o que aconteceu no sábado, dia 11 de novembro, durante o RoadSec, o maior festival hacker da América Latina, quando recebi um implante de um chip com tecnologia NFC na minha mão esquerda.

Partindo do fato que possuo um chip implantado em meu corpo e que ele é capaz de realizar ações que eu não poderia, posso afirmar sem exagerar que sou um ciborgue

Para ninguém dizer que estou exagerando quando digo que me tornei um ciborgue, vale a pena dar uma pesquisada no que significa isso. O termo vem do inglês cyborg, a união das palavras cybernetic organism, ou organismo cibernético.

O dicionário Oxford da língua inglesa define cyborg como “uma pessoa (…) cujas habilidades físicas são estendidas além das limitações humanas normais por elementos mecânicos incorporados no corpo”. Já o artigo em inglês da Wikipédia para cyborg diz que “um ciborgue é um ser com partes do corpo orgânicas e biomecatrônicas”.

Partindo do fato que possuo, agora, um chip implantado em meu corpo e que ele é capaz de realizar ações que eu, como ser humano, não poderia, eu posso afirmar sem exagerar que sou um ciborgue (mas infelizmente não aquele da Liga da Justiça, que é muito mais legal!).

Apreensão com o que vai acontecer

A história começou quando fui escalado pelo TecMundo – juntamente com o repórter Felipe Payão e o cinegrafista Renan Pagliarusi – para cobrir o RoadSec, que aconteceu na cidade de São Paulo. No evento, teríamos uma palestra de Amal Graafstra, norte-americano pioneiro do biohacking e fundador da empresa de biotecnologia chamada Dangerous Things, que desenvolveu o primeiro e único transponder implantável compatível com NFC.

Decidi participar da experiência por dois motivos claros para mim: em nome do jornalismo e para saciar a minha curiosidade por coisas novas e diferentes

Infelizmente, Graafstra não pôde comparecer pessoalmente ao evento por problemas pessoais, mas ainda assim fez sua palestra por meio de streaming. O ponto alto da apresentação, no entanto, seria a aplicação ao vivo, no palco principal do RoadSec, de um chip desse tipo e o escolhido para receber o dispositivo foi ninguém menos que este jornalista que vos escreve.

Decidi participar da experiência por dois motivos claros para mim: em nome do jornalismo, para poder mostrar a todos os interessados pelo assunto como é passar por isso – todo o processo de aplicação e recuperação até o uso em si – sem necessariamente ter que fazê-lo “de verdade”; e também para saciar a minha curiosidade por coisas novas e diferentes, por experiências praticamente únicas: quem sabe não estou dando um passo rumo a um futuro antes de todo mundo?

Ternura: o aplicador segura a mão do jornalista (mentira, é apenas o procedimento de higiene)

Após chegarmos no evento e prepararmos tudo para registrar o momento – como vocês podem ver na reportagem em vídeo no começo da matéria –, nos dirigimos para o backstage do palco principal do RoadSec. Lá, conversei brevemente com o profissional que iria implantar o chip em minha mão.

Seu nome é Daniel Rodrigo, especialista na aplicação de piercings e em modificações corporais. Ele estava presente no RoadSec realizando os implantes da Dangerous Things em quem tinha vontade de virar um ciborgue. Com experiência de alguns anos no tema, Daniel contou ser um grande admirador de Graafstra e estava um pouco decepcionado por ele não ter podido comparecer no evento. Ainda assim, ele estava animado pela exposição que a prática do biohacking estava obtendo.

Daniel Rodrigo, aplicador do chip NFC

O chip possui mais ou menos o tamanho de um grão de arroz, com 2 mm de diâmetro e 12 mm de comprimento em formato cilíndrico

Encerrada a palestra de Graafstra, entramos no palco e nos posicionamos diante do público do RoadSec. Daniel fez todos os procedimentos de higiene para a aplicação do chip, algo muito parecido com quando vamos colocar um piercing ou fazer uma tatuagem. O dispositivo da Dangerous Things vem em uma embalagem que contém, além do chip instalado na seringa aplicadora, luvas esterilizadas e até alguns curativos.

O chip possui mais ou menos o tamanho de um grão de arroz, com 2 mm de diâmetro e 12 mm de comprimento em formato cilíndrico. Ele vem dentro de uma seringa de aplicação com uma agulha parecida com aquelas usadas para doação de sangue, bem grossa. Assusta na hora de olhar, mas o implante foi muito menos traumático do que imaginei no começo.

A aplicação é extremamente rápida e a dor, completamente tolerável. Se você não tem problemas com agulhas de injeção e topa colocar algum tipo de piercing, dificilmente teria problemas para receber o chip. Ele é aplicado na área da mão entre o dedo indicador e o polegar, parte da mão que não possui ossos, debaixo da pele.

O procedimento quase não faz sangrar, pois o furo feito pela agulha se fecha rapidamente. Alguns minutos após a aplicação, minha mão inchou bastante na região onde o chip foi instalado, como se formasse uma bolha em torno do dispositivo, e ficou com um hematoma. Apenas um pequeno curativo foi feito para ajudar a fechar a abertura e pronto. Eu só sentia dor caso tocasse de maneira pouco delicada sobre a área da aplicação.

Aplicação do chip: tirem as crianças da sala!

Os minutos seguintes foram de empolgação e apreensão: será que tudo tinha dado certo mesmo? É normal esse inchaço? É normal ficar com o hematoma que fiquei? Será que o chip ficou na posição certa? Não era possível ainda testar o contato do dispositivo com o celular, por meio do NFC, pois o inchaço impedia o contato correto com o smartphone.

Após alguns minutos de briga com o posicionamento correto, tirando a capinha do smartphone e colocando ele de tudo quanto é maneira sobre minha mão – sucesso!

O aplicador aliviou minhas preocupações dizendo que tudo isso que estava acontecendo era normal e que em até 24 horas as coisas voltariam ao normal e eu poderia usar normalmente o chip. Quanto às recomendações para uma boa cicatrização, elas não diferem muito de quando fazemos um piercing: evitar comidas gordurosas, ovo, carne de porco, chocolate e não mover demais a mão, nem carregar muito peso.

Ainda conversamos com alguns outros profissionais da área no RoadSec que falaram bastante sobre as aplicações do chip com tecnologia NFC. Fui ficando cada vez mais ansioso para poder acessar o dispositivo e jogar informações nele. Recebi a recomendação de acessá-lo por meio do aplicativo NFC Tools, que pode ser baixado em smartphones com sistema Android ou iOS.

Fingindo que é corajoso

Após uma noite bem dormida e uma alimentação cuidadosa, amanheci no domingo com o inchaço quase totalmente regredido. O ferimento de entrada já estava completamente selado, mas os hematomas ainda continuavam. Saquei o celular com o NFC ativado e abri o NFC Tools. Após alguns minutos de briga com o posicionamento correto, tirando a capinha do smartphone e colocando ele de tudo quanto é maneira sobre minha mão – sucesso! – o aplicativo detectou minha mais nova parte cibernética.

Dados pessoais, números de documentos, senhas, tudo isso pode ser gravado em forma de texto no chip

No app, é possível ver diversas informações sobre o chip, inclusive coisa que, para mim, parecia estar escrito em grego. A versão paga do aplicativo ainda possui uma série de outros recursos que permite uma interação muito mais profunda com o dispositivo do que meus conhecimentos limitados permitem compreender. A ideia é explorar isso nos próximos dias e ver o que esse chip realmente pode fazer.

Por enquanto, deu para se divertir bastante inserindo informações simples no dispositivo e testando lê-las com diferentes smartphones de amigos. Dados pessoais, números de documentos, senhas, tudo isso pode ser gravado em forma de texto no chip. O NFC Tools facilita também para registrarmos nele URLs de perfis em redes sociais, de imagens ou vídeos. É possível gravar pouco menos de 1 KB de informação, o suficiente para fazer muita coisa legal.

Transmissão nas redes sociais

Aparentemente, no final, tudo deu certo. A aplicação foi bem-sucedida e 48 horas após o procedimento a região onde o chip foi colocado já não apresentava mais inchaço, apenas um pouco do hematoma ainda permanecia. Nos dias seguintes tudo voltou ao normal, ficando apenas uma formação proteica sobre o chip debaixo da pele.

É possível detectar o dispositivo com facilidade usando celulares com tecnologia NFC e o aplicativo para leitura

É possível detectar o dispositivo com facilidade usando celulares com tecnologia NFC e o aplicativo para leitura. Já deixei gravadas nele informações que servem como um cartão de visita meu e não vejo a hora de me apresentar da maneira mais cibernética possível quando tiver a oportunidade.

Nos próximos dias, pretendo explorar as capacidades mais avançadas desse chip e ver o que realmente dá para fazer no sentido de facilitar a vida das pessoas com um dispositivo do tipo implantando sob a pele. O resultado você vai poder ver em uma próxima reportagem especial aqui no TecMundo.

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