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Tatuagens para “apagar” as feridas da vida

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Às vezes, as histórias mais nobres têm início em situações dramáticas. Chamamos de “feridas da vida” essas experiências que deixam marcas em nossa pele, seja pela violência machista ou por doenças graves, como o câncer.

Neste artigo, vamos falar sobre o emocionante projeto “A Pele da Flor”, da tatuadora brasileira Flávia Carvalho. Sua missão é ajudar mulheres vítimas de violência ou que passaram por grandes cirurgias e amar seu corpo e a se sentir atraentes de novo.

Flavia usa as tatuagens para cobrir as cicatrizes deixadas no corpo das mulheres que sofreram de violência doméstica, ou que passaram por cirurgias traumáticas, como a mastectomia. O trabalho é gratuito e tem renovado a vida de muitas mulheres que sofrem ao olhar a si mesmas no espelho, lembrando-se das dores do passado.

Como nasceu o projeto?

Flavia conta que, um dia, entrou no seu estúdio uma mulher com uma profunda cicatriz na barriga. A cicatriz se devia a um ataque machista, cruel e violento. Uma noite, em uma discoteca, um homem se aproximou da mulher e tentou ter relações sexuais com ela. Ao ser rejeitado, cortou a barriga dela com uma navalha.

Este tipo de ferimento não resulta apenas em uma marca física na pele. As feridas emocionais, internas, permanecem por muito tempo abertas, mesmo depois que o ferimento externo cicatriza.

Impressionada com a história da jovem, Flávia tatuou sobre as marcas uma belíssima composição floral adornada por um pássaro. A reação da mulher ao ver essa obra cobrindo por completo sua cicatriz foi tão emotiva que comoveu a tatuadora.

A cliente sorriu e se sentiu aliviada. Da sua cicatriz havia surgido algo espetacular e reconfortante. Sua autoestima melhorou de tal modo que Flávia percebeu que tinha uma bela missão a realizar.

Tatuagens e o renascer da beleza

  • Desde 2013, Flavia tatua gratuitamente mulheres vítimas de violência ou traumas que deixaram cicatrizes.
  • Ela comenta que não existem muitas mulheres tatuadoras. Em sua maioria, os profissionais da área são homens, assim, o projeto vem suprir uma lacuna importantíssima, graças ao seu olhar feminino.
  • Seu trabalho não se resume a ocultar cicatrizes, mas também a ajudar as vítimas a se libertar da dor emocional relacionada aos ferimentos.

Como são feitas as tatuagens?

Muitas mulheres entram em contato com Flávia para saber mais sobre o projeto e como podem fazer a tatuagem na própria pele. Em geral, elas começam contando sua história, seu drama pessoal. Mais tarde, revelam suas cicatrizes e Flávia sugere um desenho.

É comum que as mulheres que passaram por uma mastectomia escolham flores que estejam se abrindo. É como um despertar da beleza. Já as vítimas de violência gostam da presença de um animal que as “ilumine”, que lhes ofereça esperança e proteção, como um gato ou colibri.

À medida que Flávia vai realizando as tatuagens, um processo de desapego e cura emocional se desdobra naturalmente. As mulheres revivem sentimentos, situações, cenas e dores. A dor da tatuagem é algo catártico, o sangue se mistura às cores e as cicatrizes vão desaparecendo.

Histórias impossíveis de esquecer

Apesar da beleza do seu trabalho, Flávia tem muitas histórias impressas em sua mente, impossíveis de esquecer.

Como o caso de uma jovem de 17 anos que esteve em um relacionamento durante alguns meses com um homem muito mais velho. Quando quis deixá-lo, ele reagiu de maneira covarde e violenta, apunhalando-a várias vezes na barriga. A jovem passou muitos dias na UTI e sobreviveu à agressão, mas nunca voltou a ser como era antes.

Pelo menos, a tatuagem que agora brilha em seu abdome com toda sua explosão de beleza, devolveu a ela sua auto-estima e o prazer de se olhar no espelho.

Impressionante também é o caso de uma mulher ferida com várias queimaduras nas pernas por causa de um acidente de carro que seu próprio parceiro provocou para se vingar dela.

Histórias terríveis que Flávia escuta todos os dias em seu trabalho, mas que a motivam a fazer cada vez mais, pois entende qual é a sua missão: oferecer beleza e esperança para outras mulheres. Apagar as feridas externas para que se curem as internas.

[in:melhorcomsaude.com]

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